Nunca voei de balão, mas posso dizer que os meus últimos
anos foram uma grande aventura. Com direito a voos, sustos, manobras, alegrias,
frios na barriga, superação e pousos diversos.
Faz exatos três anos que eu mudei não só o endereço e o
espaço físico de onde vivo. Comecei a mudar os hábitos, retornei as caminhadas
pelas ruas e voltei a enxergar os detalhes ao meu redor. Aos poucos passei a
querer novos voos e então decidi fazer outra faculdade. O plano de voo não saiu
exatamente como tracei, precisei parar os estudos e me dedicar exclusivamente
aos meus filhos.
E de repente o pouso parecia tão distante do que eu havia
sonhado, mas percebo que na verdade eu havia pousado em outra travessia. Àquela
inicial precisou de uma manobra muito grande e o vento alterou o meu destino.
Não é fácil estar em casa diariamente com a cabeça querendo subir e sobrevoar o
mundo. Não é fácil não ter hora para tomar café da manhã e sair para caminhada
como eu fazia. Não é fácil abrir mão dos meus projetos e me dedicar
exclusivamente à maternidade. Enquanto os mais ousados não posso realizar,
invento e tento por meio da minha escrita e das minhas imagens chegar a quem
busca uma resposta em meio ao turbilhão de pensamentos que nos permeiam. Não
tenho a pretensão de dar a melhor resposta apenas plantar a semente do amor,
esperança, resiliência e serenidade. Eu busco isso todos os dias desde a hora
que acordo até a hora que durmo – leia-se dormir e acordar como qualquer
horário da noite ou madrugada. Alguns dias nem sei como um filho foi parar na
minha cama, outro na sala e os berços sem nenhum deles. Simplesmente sei que
estavam assim, porque foi o mais confortável para todos da casa.
Apesar de não ser fácil, jamais faria diferente. O pouso
de emergência foi feito para que eu compreendesse melhor os meus limites, o
mundo ao qual estou inserida e o qual desejo aos meus pequenos. As horas não
dormidas se tornaram rotina e o descanso já deixou de ser cronometrado, apenas
acontece na hora necessária. O corpo acostumou com esse novo ritmo e quando me
dou conta deixei de contar a última vez que dormir 8 horas seguidas. O meu
jeito de viver hoje é outro. Tem dias que as forças parecem estar no fim, mas são
recarregadas com o abraço ingênuo ou o sorriso maroto. Chega ao máximo quando a
filha me abraça e diz que sou a melhor mãe do mundo simplesmente porque
coloquei na lancheira algo que gosta ou brinquei de escolinha durante parte da
manhã. Não é fácil estar em casa, mas hoje é o melhor que posso fazer por mim e
por todos. Quando se vive um dia por vez, é possível sonhar com novos voos e a
espera vira algo natural sem a ansiedade de querer viver uma vida inteira em
uma semana.
Depois desses três anos cheios de aventuras, surpresas,
emoções, tenho a certeza que melhor do que pousar é estar pronta para as
manobras da vida. E essa tem sido muito generosa comigo. Obrigada por me fazer
ver um mundo que eu desconhecia e me encher de amor, ternura, alegria e até me
dar um pouco de magia! Não é fácil... é surpreendente perceber como uma vida
pode ser vivida de várias maneiras e sou privilegiada em chegar aqui superando
tantas fases e com mais diversas que ainda estão por vir. Descobri que não
preciso voar por aí, posso sobrevoar eu mesma e aprender quantas "Renatas" vivem
aqui!
Um livro. Um livro escrito por uma mãe com suas experiências diárias. Quem sabe um livro que descreva os sonhos e a realidade. Escreva pro mundo minha filha. Escreva
ResponderExcluirObrigada mãe pelo seu apoio sempre!
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