Outro dia
recebi um texto muito interessante sobre a mãe, a mulher, a vida e como as pessoas
acham que em casa (leia a casa do outro) existe um passe de mágica para dar
conta de tudo. Vou reescrevê-lo baseado na minha realidade, porque neste último
ano uma das perguntas que mais preciso responder: como você faz para cuidar de
dois? Eu sorrio e atualizo – como faço para cuidar de três!
Eu nunca
dei conta sozinha. Posso até ficar com os três em vários períodos, sem outro
adulto junto, mas para isso teve alguém que esteve na minha casa, fez a minha
comida, limpou o meu quarto, a sala. E mesmo tendo alguém me auxiliando com a
casa, seleciono quais são as prioridades e o resto esqueço em algum lugar para
não ocupar a minha mente e me desvirtuar do que realmente é necessário hoje. No
dia seguinte quando levanto vem uma nova lista de prioridades, escondo algumas
outras, deleto as que acho bobeira.
Sim, eu
deixo filho dormir sem escovar o dente, porque tem dias que decido não ter a
discussão ou simplesmente o cansaço bateu na mãe e na filha.
Tem dias
que junto tudo o que sobrou na geladeira e crio um verdadeiro self-service
aquecido no microondas. E prometo que assim que possível farei o prato
preferido de cada um.
Sabe a
minha mente que escolhe prioridades e esconde o cisco ou a sujeira toda, pode
ser equiparada a um tapete. E este com certeza nunca fica sem uma poeira
embaixo. Nunca consegui limpar tudo, acho que realmente nem quero. No fundo é
gostoso esconder as coisas, acumular umas tranqueiras ali embaixo. E
infelizmente tem dias que acumulei coisa demais, tenho medo de perder o
controle, choro quieta, rezo para ter força e paz para seguir adiante daquela
montanha que precisa de corda para escalar. Fecho os olhos e mesmo quando a
madrugada foi agitada e longe de ser a noite em que sonhava há meses, espero o
dia seguinte para sorrir e agradecer por mais uma manhã de esperança renovada.
Exceto
aos domingos, não existe uma manhã em que posso me dar ao luxo de tomar café da
manhã, banho demorado, ou fazer aquela preguicinha na cama. Mas posso garantir
que todas as manhãs agradeço pela oportunidade em viver tudo isso. Nem todos os
dias são fáceis, do amor próprio a enxergar todos os defeitos que só o meu
espelho consegue me mostrar. Mas ao escolher viver um dia por vez, o tapete
vira paisagem quando não quero mexer nas quinquilharias que acumulei até aqui e
não tive coragem de me despir ainda.
A vida é
assim sem mágica, sem truque, com muito otimismo e ajuda que se não prestarmos
atenção parece invisível.
Pode até
parecer frustrante e desesperador não viver o que você gostaria, mas no fundo
tudo é uma grande gangorra. Um eterno levanta e sobe, depende do peso dado ao
que é carregado e o toque de alegria faz toda diferença para olharmos para cima
e dar aquele empurrãozinho quando tudo parece estar no chão.
Na casa
de todas as pessoas não existe passe de mágica. Se a sala dela é impecável
alguém esteve ali ou a própria dona abriu mão de momentos de lazer. Temos a
tendência em analisar produto final e esquecemos que alguém, que passa muitas
vezes por invisível, garante o movimento da engrenagem para não parar.
É
impossível dar conta de tudo sozinha. Se assim fosse teria enlouquecido. Nem
tentei na verdade dominar o mundo dessa vez. A vida me ensinou que receber
ajuda faz parte, assim como esconder as nossas angústias ali naquele cantinho
que só a gente sabe. E depois de comer um doce escondido, rezar por uma noite
inteira de sono ou simplesmente um banho tudo se renova.
Nos
parques, na porta da escola, no prédio, descobri que existem pessoas comuns –
do tipo carne e osso. Por trás de todas as lindas imagens postadas nas redes
sociais, existe uma mãe igual a mim. Buscando emagrecer no mínimo 5 quilos, e
jurando que cortar as unhas das crianças será uma prioridade – sem falta!
Existem dias maravilhosos em que a certeza do conto de fadas existe “serei feliz
para sempre”. Mas também tem aqueles que olho ao meu redor, busco entender como
parei ali no meio da sala cheia de brinquedos espalhados, às 8h da manhã já ter
trocado duas fraldas, feito duas mamadeiras, esquentado o leite da mais velha,
tomado café da manhã em pé no fogão ou sentada na mesa de olho onde os dois
podem aprontar! E de repente pergunto “quem sou eu mesmo?”
E como dou conta de tudo, existe apenas uma resposta – o amor. O amor que tenho
pela vida, pelos meus filhos, pelo meu marido, pelos meus pais, irmãs, sogros, cunhados, pela família que mora perto ou longe, pelos amigos.
O amor que recebo diariamente de tantas pessoas que não convivo como gostaria.
O amor estampado em cada sorriso e abraço que recebo dos meus pequenos. O amor
do meu marido que está ali ao meu lado segurando na minha mão e brincando “não
foge!”. O amor. Ah, o amor invade meu peito e me faz lembrar que a vida é bela,
merece ser agradecida diariamente.
*Minha releitura da vida de uma desconhecida