quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Como você faz para dar conta?


Outro dia recebi um texto muito interessante sobre a mãe, a mulher, a vida e como as pessoas acham que em casa (leia a casa do outro) existe um passe de mágica para dar conta de tudo. Vou reescrevê-lo baseado na minha realidade, porque neste último ano uma das perguntas que mais preciso responder: como você faz para cuidar de dois? Eu sorrio e atualizo – como faço para cuidar de três!
Eu nunca dei conta sozinha. Posso até ficar com os três em vários períodos, sem outro adulto junto, mas para isso teve alguém que esteve na minha casa, fez a minha comida, limpou o meu quarto, a sala. E mesmo tendo alguém me auxiliando com a casa, seleciono quais são as prioridades e o resto esqueço em algum lugar para não ocupar a minha mente e me desvirtuar do que realmente é necessário hoje. No dia seguinte quando levanto vem uma nova lista de prioridades, escondo algumas outras, deleto as que acho bobeira.
Sim, eu deixo filho dormir sem escovar o dente, porque tem dias que decido não ter a discussão ou simplesmente o cansaço bateu na mãe e na filha.
Tem dias que junto tudo o que sobrou na geladeira e crio um verdadeiro self-service aquecido no microondas. E prometo que assim que possível farei o prato preferido de cada um.
Sabe a minha mente que escolhe prioridades e esconde o cisco ou a sujeira toda, pode ser equiparada a um tapete. E este com certeza nunca fica sem uma poeira embaixo. Nunca consegui limpar tudo, acho que realmente nem quero. No fundo é gostoso esconder as coisas, acumular umas tranqueiras ali embaixo. E infelizmente tem dias que acumulei coisa demais, tenho medo de perder o controle, choro quieta, rezo para ter força e paz para seguir adiante daquela montanha que precisa de corda para escalar. Fecho os olhos e mesmo quando a madrugada foi agitada e longe de ser a noite em que sonhava há meses, espero o dia seguinte para sorrir e agradecer por mais uma manhã de esperança renovada.
Exceto aos domingos, não existe uma manhã em que posso me dar ao luxo de tomar café da manhã, banho demorado, ou fazer aquela preguicinha na cama. Mas posso garantir que todas as manhãs agradeço pela oportunidade em viver tudo isso. Nem todos os dias são fáceis, do amor próprio a enxergar todos os defeitos que só o meu espelho consegue me mostrar. Mas ao escolher viver um dia por vez, o tapete vira paisagem quando não quero mexer nas quinquilharias que acumulei até aqui e não tive coragem de me despir ainda.
A vida é assim sem mágica, sem truque, com muito otimismo e ajuda que se não prestarmos atenção parece invisível.
Pode até parecer frustrante e desesperador não viver o que você gostaria, mas no fundo tudo é uma grande gangorra. Um eterno levanta e sobe, depende do peso dado ao que é carregado e o toque de alegria faz toda diferença para olharmos para cima e dar aquele empurrãozinho quando tudo parece estar no chão.
Na casa de todas as pessoas não existe passe de mágica. Se a sala dela é impecável alguém esteve ali ou a própria dona abriu mão de momentos de lazer. Temos a tendência em analisar produto final e esquecemos que alguém, que passa muitas vezes por invisível, garante o movimento da engrenagem para não parar.
É impossível dar conta de tudo sozinha. Se assim fosse teria enlouquecido. Nem tentei na verdade dominar o mundo dessa vez. A vida me ensinou que receber ajuda faz parte, assim como esconder as nossas angústias ali naquele cantinho que só a gente sabe. E depois de comer um doce escondido, rezar por uma noite inteira de sono ou simplesmente um banho tudo se renova.
Nos parques, na porta da escola, no prédio, descobri que existem pessoas comuns – do tipo carne e osso. Por trás de todas as lindas imagens postadas nas redes sociais, existe uma mãe igual a mim. Buscando emagrecer no mínimo 5 quilos, e jurando que cortar as unhas das crianças será uma prioridade – sem falta!
Existem dias maravilhosos em que a certeza do conto de fadas existe “serei feliz para sempre”. Mas também tem aqueles que olho ao meu redor, busco entender como parei ali no meio da sala cheia de brinquedos espalhados, às 8h da manhã já ter trocado duas fraldas, feito duas mamadeiras, esquentado o leite da mais velha, tomado café da manhã em pé no fogão ou sentada na mesa de olho onde os dois podem aprontar! E de repente pergunto “quem sou eu mesmo?”
E como dou conta de tudo, existe apenas uma resposta – o amor. O amor que tenho pela vida, pelos meus filhos, pelo meu marido, pelos meus pais, irmãs, 
sogros, cunhados, pela família que mora perto ou longe, pelos amigos. O amor que recebo diariamente de tantas pessoas que não convivo como gostaria. O amor estampado em cada sorriso e abraço que recebo dos meus pequenos. O amor do meu marido que está ali ao meu lado segurando na minha mão e brincando “não foge!”. O amor. Ah, o amor invade meu peito e me faz lembrar que a vida é bela, merece ser agradecida diariamente.

*Minha releitura da vida de uma desconhecida

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